sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Desabafo de um ex-poeta


Desabafo de um ex-poeta

Levo-me a crer que poesia tem data de validade na vida da gente. Uma chama que vai se apagando, esperneando contra a mansidão, mas que enfim se apaga no jocoso dia-a-dia. Será o fim da paixão? Uma completude de todas as coisas que percebemos...
Tenho saudades dos meus versos mais criativos, sobretudo dos despretensiosos. A mesma saudade que sinto dos gols que fiz nas peladas da minha rua. Meu eu fica orgulhoso com a plasticidade e a sinceridade deles, porém, já não os faço mais.
“Êh vontade de enlouquecer.”
Vontade mesmo é a de agora, saudosa vontade. Os versos brotavam na madrugada, nas ruas, nos beijos, nos cheiros e pulsavam nas veias. Os versos saltitavam num clímax excitante. Dó tenho eu daqueles que jamais puderam sentir esse à flor da pele, poetas inférteis que para a vida não desabrocharam. Passaram da hora como os bolos de minha irmã, que inexplicavelmente murchavam e perdiam a chance única que os tempos lhes deram para mostrar suas belezas ao mundo.
Hoje, é tudo prosa em mim. Uma conversa longa de esquina que vai indo lesma e brocha. Perder-se é mais fácil. É na verdade provável nessas prosas que sutilmente me irritam. Antes eram poucas as letras e muito o dizer e o sentir. Agora é carta, noticiário, rigidez de paletó e muita certeza.
“Tenho certeza de quase tudo que tenho certeza.”
Outrora livre dos impedimentos que não sei se me lançaram ou se pacatamente os aceitei. Sou um poeta sonolento que perdeu na memória o estado do que o faz. Sou pedra. Caneta e papel de pedras.
Ousaram dizer, não sei quem, mas dito foi, que a sensibilidade é o moto perpétuo da poesia. A capacidade de captar o que nos rodeia a vida e, quase sempre, nos fogem aos olhos. Santo Deus, tenho olhado tudo no mais fino detalhe e admiração. Prestado reverência a cada beleza deste mundo seco, ouvido a todos os irmãos sem distinções e mais, tenho me postado em seus lugares no exercício de abstrair-me em suas angústias. Li filosofias e tenho me adestrado no tato com todos os seres. Esperançoso que não sou, nem um versinho tem me visitado nessa língua morta chamada poesia.



JFCNeto

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