sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

12 de Dezembro de 1897


Nasci, fui criado e a cada dia sou mais curtido em Belo Horizonte. Por isso, uma das coisas que mais fiz na vida foi enfrentar os morros desta cidade. Aos moradores de cá a bravura na luta contra os morros é necessária e não facultativa. As regiões planas me causam certo desconforto. O único plano que gosto é o formado pelas águas da Pampulha, mas gosto porque rapidamente ele se torna uma queda brusca no sumidouro da barragem e se desprende mundo afora. As faltas de horizonte acima do nariz e de inclinação diante da fronte me causam uma desmineirização.

Por falar, desmineirar é a coisa mais preocupante que tenho visto nestes tempos de vida. Não sou do cerrado e nem sertanejo, mas rogo aos céus que me protejam da pasteurização dos dias. Da planificação de comportamento de agora, pois aí está entre todos o plano que menos me agrada. O plano do pensamento podado. Cá eu, gosto do belorizontino da roça, que em contra-senso é a amálgama do comportamento urbano e da singeleza do povo da roça. Com a dureza dos asfaltos e a clareza dos roça para ver as coisas. E se digo tudo isso é porque nasci, fui criado e a cada dia que passa mais curtido nesta topografia acidentada..

Aqui, onde considero a confluência de todas as mineiridades. No estado que é o centro de gravidade do Brasil. Eu posso ver as luzes brilhando acima do céu e piscando abaixo da terra. E se a todos aprendi receber bem é pelo o orgulho de ser o para-raio dos de fora. Assim sei o segredo de se pensar em nunca querer daqui sair. Nessas inclinações de embreagens desgastadas. A cidade é da minha família, com ela tenho laços de sangue e amor. Subo Bahia e desço Floresta. Como dito, isso só porque nasci, fui criado e a cada dia sou mais curtido nos meandros das infinitas conversas de bares.



Vejo intenções claras de se valorizar minha cidade com citações aos seus pontos marcantes e ao nosso comportamento particular. Ao mercado, às praças, ao pão de queijo e a um tal prédio que balançava, mas não caía e por fim, assim como nós, está de pé num desses morros. Na tentativa de resgatar a identidade que anda se esvaindo com o tempo. Pois por mim, que me garanto no que digo por só dizer aqui o que há em minha existência, não precisam se preocupar. Em cada canto que vou levo meu jeito destilado e a saudade da temperatura amena de nossas noites. Afirmo isso porque nasci, fui criado e a cada dia mais curtido nas raízes da serra imponente que se alteia ao nosso sul.


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