Um personagem folclórico da minha
infância, após uma desclassificação vergonhosa do Galo em uma dessas Copas do
Brasil, me disse:
“Joãozinho, nós vamos morrer e
não vamos ver o Galo ganhar nada. O Fulano morreu e não viu, o Ciclano também
não e com a gente vai ser a mesma coisa.”
Ele não sabe, mas depois fiquei
pensando em suas palavras. Na dureza que era torcer para um time que durante
décadas insistia em nos frustrar ano após ano. Pensei nos senhores atleticanos
que conheci, com suas histórias de um time raçudo que encantava a massa. Santo
Deus, como pensei que ser atleticano era uma coisa de folclore e que as histórias
não passavam de lendas. Uma falha nas percepções daqueles senhores. Os que vi
deixarem esse mundo sem ver o que vi na última quarta, que pena. O que teria
valido tanta dedicação e amor desenfreado pelo Galo?
E lá ia eu para o campo ver o
Galo jogar. E sentia um arrepio com a Massa cantando e aquilo, na minha cabeça
racional, já bastava pra mim. Pensava relutante que ficaria atleticano até o
fim dos tempos porque assim era meu pai.
“Meu filho, o homem troca de
mulher, de emprego, de carro, de tudo. Mas nunca troca o time.”
Nem precisava dizer, pois eu já
sentia isso. O impossível de se deixar de sentir a paixão pelo time do coração.
Pensei seriamente em parar de acompanhar os jogos. Pensei no quão mais
inteligente seria. Menos penoso e cansativo meus dias. Estava tudo planejado
para o meu desligamento desse mundo futebolístico que vem no nosso DNA, na
pressão do dia a dia, nas rodas de amigos, na família que cria a gente. Ora,
torcer pro Galo era uma contradição na minha personalidade. Um ‘nada a ver’ com
meu jeito de encarar as coisas.
Aí me aparece o Kalil e monta
esse time. Resolvi dar uma chance e esperar mais um ano. O ano passado com o
vice campeonato larapiado para o tricolor carioca. Depois veio a Libertadores e
não consegui deixar de acompanhar. Porém, no fundo pensava em retomar meu
projeto de não acompanhar mais Futebol, jamais deixaria de ser atleticano, só
não acompanharia.
Bobagem pensada por mim, que
fiquei até as duas da manhã em frente à sede cantando com outros 2 mil malucos
no dia do centenário. Eu que fui acompanhando os jogos da Libertadores e
sentindo que algo diferente vinha acontecendo. Melhor time da primeira fase,
goleada no São Paulo (o Galo nunca tinha vencido um paulista em mata-mata), um
pé milagroso defendendo um pênalti aos 48 do segundo tempo, uma semi-final nas
penalidades e por fim, a final mais desumana (como disse o Jacuri) vencida
também nos pênaltis.
E agora João? O jogo acabou. O
Galo ganhou.
Fiquei sentando atônito no meu
sofá da sorte, pensando que horas eu acordaria do sonho. Olhando a fé dos
torcedores atleticanos nos jogos reforcei minha fé. Obrigado meu Deus.
Das coisas que quero falar com
toda felicidade:
- A Comenbol é uma instituição pra lá de sacana com os brasileiros;
- O que deve ter sentido aqueles que estiveram no Mineirão?;
- Leonardo Silva desafia as leis da Física ao ficar tanto tempo no ar e fazer um gol daquele;
- Ronaldinho é um grande jogador, um craque, um gênio;
- A juizada deixa o pau cantar demais na Libertadores;
- Kalil é o cara e sou tão fã dele quanto sou do Perrela;
- Cuca é realmente um homem de fé e mereceu o título mais que ninguém;
- Um dia antes sonhei que participei do jogo, entrei no lugar do Pierre e participei do lance de um dos gols;
- Depois, ainda no sonho, pedi ao Pierre para que voltasse pro campo porque eu não sabia o que estava fazendo ali;
- Jacuri meu irmão, espero que também não tenha comprado a camisa o Olímpia;
- Pedrinho, meu filho, com um mês de vida já vê o Galo ser campeão da América;
- Êita moleque que tem mais sorte que o pai;
- Assisti a um jogo do Bayern e confesso que ali não dá não;
- Mas como as coisas andam desandando, pode ser que tenhamos mais alguns milagres para assistir até o fim do ano;
- Quem foi que derrubou o atacante do Olimpia depois de passar pelo Victor? Roberto Drummond, Elias Kalil, Kafunga, Mário de Castro, a própria grama do campo, meu ódio ao vê-lo prestes a acabar com tudo, a Dilma (que agora é atleticana), o Anastasia, o Chico Pinheiro, o Milton Neves, Reinaldo, Dadá, Marques, Pedro Gama, Ronilson, Frei Mário, Bilga Pawlovsky, Lucinda, Telassim, Ricardo Freitas, Ziza Valadares, a menina do BBB, Cássia Eller, Zaca, Dé, Gilmer, a santa que nos perdoou, o Ozzy com a camisa do Galo, as lágrimas dependuradas em meus olhos, ou todos eles? Acho que foi nossa fé inabalável.
Peço licença aos caríssimos
cruzeirenses, tão conhecedores de Libertadores. Para dizer que nossa alegria
foi grande demais. Maior que tudo porque a gente não tá cabendo dentro da
gente.
GAAAAAAALLLLLLLOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!
Grande abraço a todos vocês meus caríssimos.
3 comentários:
Só a emoção e a paixão explicam o que foi viver aqueles momentos da final...Nascemos atleticanos, não dá para se tornar atleticano. Tá no sangue, marca a alma!!! E mais uma vez a minha teoria se aplica: não existe torcer para o Galo sem sofrer, sem testar periodicamente o coração!!! Lindo demais, lembrança eterna!!!
parabéns pelo título.
O papa também é atleticano. Acho que lí no Anselmo Góes ou na Patrícia Kogute... sei lá...
Quem sabe vocês não aproveitam o vento e papam logo o Brasileiro e o mundial...
Que coisa bonita a felicitação de Nélio Souto. Um sujeito nobre, de alma boa, coração singelo, trato fino com as palavras, amigo da temperança e dos bons costumes, o genro dos sonhos daquelas senhoras da plateia do Sílvio Santos, um anjo de pessoa...
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