segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Lista Futebolística 13Jan2015 - O Medo dos Espíritos e o Pau de Selfie

Boa noite a todos vocês meus caríssimos.

Vou reproduzir alguns trechos de conversas que aconteciam depois da pelada na rua onde fui criado. Vou ocultar o nome dos agentes em respeito à história.

Naquela época era normal a gente parar de jogar bola por volta das 20 horas e depois começar a conversar sentado em algum meio fio ou passeio. Um bando de meninos conversando até tarde na rua, nada mais. Lembrando que antes 10 horas da noite era tarde demais e o mundo já estava paralisado.

Nessas conversas pós-pelada ouvia-se de tudo, inclusive futebol. Porém, havia um tema que surgia e até o clima mudava. Era quando o papo ia para o lado do sobrenatural, a coisa ficava séria.

Na discussão sobre os espíritos e sua existência não faltavam casos contados de experiências pessoais e de terceiros. Claro que nenhuma delas poderia ser comprovada, mas todos já tinham de alguma maneira sido incomodado pelas almas do além.

Um falava de coisas do interior citando as tais mala-sombras que me causava arrepios, outro dizia sobre uma tia que fora possuída e só se libertara após uma sessão de descarrego com muita reza e tapa na cara. Dessa eu me lembro até do diálogo:

_ Sai coisa ruim em nome de Jesus nosso senhor!!! Disse o exorcista com uma série de pancadas e puxões de cabelo na possuída.

Segundo o garoto, depois de umas quatro horas a entidade disse com uma voz rouca e meio abalada:

_ Tá bom! Eu vou embora! Para de bater em mim seu demônio! Inferno! Pelamor de Deus!

Hoje eu morro de rir quando me lembro desse diálogo em que o demônio xingou o exorcista espancador de demônio e ainda pediu auxílio ao divino.

Assim ia a conversa e quanto mais incômoda ficava, mais extensa e tenebrosa. 
Por fim, quando todos perceberam que um dos colegas não se manifestava nem para contar um caso e nem parecia se impressionar com as estórias, resolveram perguntar:

_E você fulano, cê acredita em espírito?

_ Eu não. Respondeu seco e meio incomodado com o assunto.

_ Uai, mas se um aparecer na sua frente?

_ Peço licença e continuo andando.

Todos estavam já pensando como ir embora para casa naquela noite e na indolência do Fulano diante de um assunto tão sério. E mais explicações e perguntas vieram:

 _ Mas não é assim não rapaz. Espírito quando aparece a gente não consegue fazer nada, ele passa entre as coisas e segue o nosso pensamento; tipo no filme do Ghost.

Disse um dos garotos.
_ Duvido que cê faz alguma coisa.

Aí ele disse com toda seriedade e impaciência:
_ Uai, não faço nada mesmo não! E se aparecer pra mim eu digo: Óh, eu não acredito no cê não. E eu não quero papo!

A essa altura estávamos todos sentados em uma roda e instintivamente nos aproximávamos numa tentativa de proteção em bando. Por um instante o silêncio tomou conta do ambiente. Todos ficaram calados. Foi aí que de repente o maior moleque da turma, o Beltrano, levantou-se de sobressalto assustado e gritando:

_ Olha o bicho aí!!!

O pavor foi geral. Não teve esse que ficasse parado. Eu senti minha espinha gelar e nunca me levantei tão rápido em toda vida. A roda de conversa se dissolveu e todos se afastaram do jeito que dava. Teve gente até gingando capoeira contra o desconhecido.

Um segundo depois nos entreolhamos tentando entender o tinha acontecido e vimos que o Beltrano já estava a um poste de distância ainda correndo e se desviando da sua mãe que o caçava com uma vara de goiabeira.

_ Vem cá seu miserável! Não falei pra tá lá em casa antes do seu pai chegar!

Olha que coisa, o tal bicho era a mãe dele enfurecida.
Ficamos meio constrangidos com a situação e já falamos de ir embora para casa. Uns mais cruéis riam do Beltrano e só depois nos demos conta da ausência do Fulano.

_ Uai gente, cadê o Fulano?

Pois então, o Fulano na hora da confusão desapareceu tão rápido que ninguém viu nem a direção que seguiu. Quando nos encontramos com ele no outro dia e perguntamos sobre o que ele tinha feito para sumir tão rápido ele nada falava.

Claro que foi uma azaração gigante e de vez em quando a gente o chamava de Noturno dos X-Men porque tinha a capacidade de se teletransportar na hora do cagaço.

Ele nada dizia. Mistérios...

Pois bem caríssimos, outro dia me aventurei a assistir a tal Rede Globo por alguns instantes. Vi um pouquinho de um programa chamado Esquenta da Regina Casé, mas que se pronuncia Ixquenta, e um bloco inteiro do Altas Horas do finado Sérgio Groissman. Digo finado porque me lembro dele no Programa Livre e era muito melhor.

O tal Ixquenta é uma lástima porque fica numa tentativa suicida de convencer as pessoas que favela é bom. Ou seja, o legal é ser da comunidade. Uma pseudo-valorização da condição social do país e, lógico, o oportunismo de se ganhar a audiência na chamada ascensão da classe C.

Já nos Altas Horas me dei conta de outro aspecto, a necessidade de se filmar tudo. Tinha uma dupla sertaneja tocando e um grupo de axé (daí se vê que eu assistia por curiosidade e mais nada).

Quando esses artistas começavam a tocar a plateia formada por jovens ficava morta. A não ser pelo fato de instintivamente pegarem os telefones e começarem a filmar. Não cantavam, não dançavam e só filmavam e faziam seus selfies... Nós estamos ficando doentes com esses celulares. Parecia impossível, mas essa geração consegue ser mais sem graça que a minha.

As pessoas perdem a sensação dos momentos e não aproveitam as experiências porque estão preocupadas em botar o celular para filmar e no enquadramento da imagem. Quanta memória jogada no lixo, já que esses vídeos certamente nunca são vistos...



Sem contar o tal pau de selfie. 
Ôh meu Deus! O mundo vai acabar logo, né?

Um sujeito saca sabe-se lá de onde um artefato retrátil, tipo antena de carro velho, encaixa o celular na ponta e faz uma foto de si e de suas companhias (aí é welfie).
No futuro haverá concurso do melhor pau de selfie. Imagina o vendedor do shopping Oi:

_ Aêêê o pau de selfie!!! Tem de todo tamanho minha senhora! 

Pois é, acabaram com o pau de sebo e inventaram outro pau para diversão...

Para quem nunca viu dá uma olhada na sutileza aqui. Pau de Selfie

É ou não é demais???


No mais segue a vida.

  • O Cristiano Ronaldo foi escolhido o melhor do mundo;
  • Quanta bobagem essa eleição;
  • Haja vista a presença de David Luiz na zaga escolhida;
  • Ao Galo só falta os talheres, já que o Pratto está aí;
  • Que piada retardada, peço desculpas;
  • Para chocar um pouco: 

  • Je suis Charlie!? Bem, eu não;
  • Fico muito mais preocupado com os 50 mil homicídios que acontecem no Brasil por causas muito mais estúpidas;
  • Lá é um jornal desaforado que ganha a vida e dinheiro fazendo charges ofensivas contra uma manada de idiotas fundamentalistas e desumanos;
  • Não há mistério algum nessa charada;
  • Só a cretinice de pensar que todos precisam aceitar tudo e do mesmo jeito;
  • Êita mundo que parece que vai, mas volta.



Grande abraço a todos vocês meus caríssimos.

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