Boa noite a todos vocês meus
caríssimos.
Vou reproduzir alguns trechos de
conversas que aconteciam depois da pelada na rua onde fui criado. Vou ocultar o
nome dos agentes em respeito à história.
Naquela época era normal a gente
parar de jogar bola por volta das 20 horas e depois começar a conversar sentado
em algum meio fio ou passeio. Um bando de meninos conversando até tarde na rua,
nada mais. Lembrando que antes 10 horas da noite era tarde demais e o mundo já
estava paralisado.
Nessas conversas pós-pelada
ouvia-se de tudo, inclusive futebol. Porém, havia um tema que surgia e até o clima mudava.
Era quando o papo ia para o lado do sobrenatural, a coisa ficava séria.
Na discussão sobre os espíritos e
sua existência não faltavam casos contados de experiências pessoais e de
terceiros. Claro que nenhuma delas poderia ser comprovada, mas todos já tinham
de alguma maneira sido incomodado pelas almas do além.
Um falava de coisas do interior
citando as tais mala-sombras que me causava arrepios, outro dizia sobre uma tia
que fora possuída e só se libertara após uma sessão de descarrego com muita
reza e tapa na cara. Dessa eu me lembro até do diálogo:
_ Sai coisa ruim em nome de Jesus
nosso senhor!!! Disse o exorcista com uma série de pancadas e puxões de cabelo
na possuída.
Segundo o garoto, depois de umas
quatro horas a entidade disse com uma voz rouca e meio abalada:
_ Tá bom! Eu vou embora! Para de
bater em mim seu demônio! Inferno! Pelamor de Deus!
Hoje eu morro de rir quando me
lembro desse diálogo em que o demônio xingou o exorcista espancador de demônio
e ainda pediu auxílio ao divino.
Assim ia a conversa e quanto
mais incômoda ficava, mais extensa e tenebrosa.
Por fim, quando todos
perceberam que um dos colegas não se manifestava nem para contar um caso e nem
parecia se impressionar com as estórias, resolveram perguntar:
_E você fulano, cê acredita em
espírito?
_ Eu não. Respondeu seco e meio
incomodado com o assunto.
_ Uai, mas se um aparecer na sua
frente?
_ Peço licença e continuo
andando.
Todos estavam já pensando como ir
embora para casa naquela noite e na indolência do Fulano diante de um assunto
tão sério. E mais explicações e perguntas vieram:
_ Mas não é assim não
rapaz. Espírito quando aparece a gente não consegue fazer nada, ele passa entre
as coisas e segue o nosso pensamento; tipo no filme do Ghost.
Disse um dos garotos.
_ Duvido que cê faz alguma coisa.
Aí ele disse com toda seriedade e impaciência:
_ Uai, não faço nada mesmo não! E se aparecer pra mim eu
digo: Óh, eu não acredito no cê não. E eu não quero papo!
A essa altura estávamos todos sentados em uma roda e
instintivamente nos aproximávamos numa tentativa de proteção em bando. Por um
instante o silêncio tomou conta do ambiente. Todos ficaram calados. Foi aí que
de repente o maior moleque da turma, o Beltrano, levantou-se de sobressalto
assustado e gritando:
_ Olha o bicho aí!!!
O pavor foi geral. Não teve esse que ficasse parado. Eu senti
minha espinha gelar e nunca me levantei tão rápido em toda vida. A roda de
conversa se dissolveu e todos se afastaram do jeito que dava. Teve gente até
gingando capoeira contra o desconhecido.
Um segundo depois nos entreolhamos tentando entender o tinha
acontecido e vimos que o Beltrano já estava a um poste de distância ainda
correndo e se desviando da sua mãe que o caçava com uma vara de goiabeira.
_ Vem cá seu miserável! Não falei pra tá lá em casa antes do
seu pai chegar!
Olha que coisa, o tal bicho era a mãe dele enfurecida.
Ficamos meio constrangidos com a situação e já falamos de ir
embora para casa. Uns mais cruéis riam do Beltrano e só depois nos demos conta
da ausência do Fulano.
_ Uai gente, cadê o Fulano?
Pois então, o Fulano na hora da confusão desapareceu tão
rápido que ninguém viu nem a direção que seguiu. Quando nos encontramos com ele
no outro dia e perguntamos sobre o que ele tinha feito para sumir tão rápido
ele nada falava.
Claro que foi uma azaração gigante e de vez em quando a
gente o chamava de Noturno dos X-Men porque tinha a capacidade de se
teletransportar na hora do cagaço.
Ele nada dizia. Mistérios...
Pois bem caríssimos, outro dia me aventurei a assistir a tal
Rede Globo por alguns instantes. Vi um pouquinho de um programa chamado
Esquenta da Regina Casé, mas que se pronuncia Ixquenta, e um bloco inteiro do
Altas Horas do finado Sérgio Groissman. Digo finado porque me lembro dele no
Programa Livre e era muito melhor.
O tal Ixquenta é uma lástima porque fica numa tentativa
suicida de convencer as pessoas que favela é bom. Ou seja, o legal é ser da
comunidade. Uma pseudo-valorização da condição social do país e, lógico, o
oportunismo de se ganhar a audiência na chamada ascensão da classe C.
Já nos Altas Horas me dei conta de outro aspecto, a
necessidade de se filmar tudo. Tinha uma dupla sertaneja tocando e um grupo de
axé (daí se vê que eu assistia por curiosidade e mais nada).
Quando esses artistas começavam a tocar a plateia formada
por jovens ficava morta. A não ser pelo fato de instintivamente pegarem os telefones
e começarem a filmar. Não cantavam, não dançavam e só filmavam e faziam seus
selfies... Nós estamos ficando doentes com esses celulares. Parecia impossível,
mas essa geração consegue ser mais sem graça que a minha.
As pessoas perdem a sensação dos momentos e não aproveitam as
experiências porque estão preocupadas em botar o celular para filmar e no
enquadramento da imagem. Quanta memória jogada no lixo, já que esses vídeos certamente
nunca são vistos...
Sem contar o tal pau de selfie.
Ôh meu Deus! O mundo vai acabar logo, né?
Um sujeito saca sabe-se lá de onde um artefato retrátil, tipo antena de carro velho, encaixa o celular na ponta e faz uma foto de si e de suas companhias (aí é welfie).
No futuro haverá concurso do melhor pau de selfie. Imagina o vendedor do shopping Oi:
_ Aêêê o pau de selfie!!! Tem de todo tamanho minha senhora!
Pois é, acabaram com o pau de sebo e inventaram outro pau para diversão...
Para quem nunca viu dá uma olhada na sutileza aqui. Pau de Selfie
É ou não é demais???
No mais segue a vida.
- O Cristiano Ronaldo foi escolhido o melhor do mundo;
- Quanta bobagem essa eleição;
- Haja vista a presença de David Luiz na zaga escolhida;
- Ao Galo só falta os talheres, já que o Pratto está aí;
- Que piada retardada, peço desculpas;
- Para chocar um pouco:
- Je suis Charlie!? Bem, eu não;
- Fico muito mais preocupado com os 50 mil homicídios que acontecem no Brasil por causas muito mais estúpidas;
- Lá é um jornal desaforado que ganha a vida e dinheiro fazendo charges ofensivas contra uma manada de idiotas fundamentalistas e desumanos;
- Não há mistério algum nessa charada;
- Só a cretinice de pensar que todos precisam aceitar tudo e do mesmo jeito;
- Êita mundo que parece que vai, mas volta.
Grande abraço a todos vocês meus caríssimos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário