Obrigado aquela chuva de vento
que me lembrou que um bom guarda-chuva pode ser útil. E àquele motorista que
arrancou o ônibus ignorando meus gritos e levando meu guarda chuva, minhas
lembranças.
À professora do primário que
excomungou meu coleguinha por fazer xixi nas calças, muito obrigado. O seu
escárnio me fez entender a importância de se manter as cuecas limpas.
Ao meu amigo, que me cobrou um
disco de vinil com rispidez, muito obrigado. Além das cuecas me fez aprender
que também é bom manter o nome limpo.
À quina do balcão que divide a
copa da sala, muitíssimo obrigado. Me fez lembrar dolorosamente da existência
silenciosa dos meus dedos mindinhos.
Muito obrigado todas as tampas de
canetas esferográficas, sem vocês meus ouvidos coçariam eternamente.
Ao pé de manga do meu quintal,
meus agradecimentos. Aderido à sua pele trincada e fungosa conheci o poder do
contato com uma taturana bezerra, com os marimbondos chumbinhos e, por
conseqüência, o contato direto com Deus no desespero da dor.
Obrigado à lagarta e aos
marimbondos, a amônia e a sensação de sua inalação, só conheci tentando me salvar dos seus efeitos.
Ao copo lagoinha, a mais profunda
consideração. Pois ainda na infância me proporcionou a consciência de que nem
todo líquido incolor é também insípido e inodoro. Além disso, me fez entender a
importância de respirar, já que a cachaça me roubou a respiração.
À menina por quem fui apaixonado
no colégio minhas desculpas e agradecimentos. Primeiro por esquecer seu nome e
depois por me inserir na arte de desejar, desejar, desejar...
Obrigado cada miligrama de tabaco
que impregnaram meus alvéolos, pela ajuda em enfrentar as ansiedades da vida.
Ao Sol que nasce na Ilha do
Mangabal, muito obrigado. Entendi o meu tamanho diante das coisas depois de
passar um dia inteiro sob você. Aproveitando pude entender a importância do
protetor solar ao passar uma noite sem dormir com a pele tostada.
Ao indivíduo que cuspiu na minha
cabeça de cima do viaduto Santa Tereza, valeu. Não te desejo mal, desejo apenas
o que você merece... Mando as mais saudosas lembranças à vossa genitora.
Obrigado lata de 18 litros que
carreguei batendo a laje da casa de um amigo. Pude ter a experiência de passar
uma semana com concreto agarrado à minha orelha esquerda, coisa que certamente
poucos experimentaram.
Morros do bairro da Sagrada Família, minhas lembranças
fraternas. As panturrilhas de minhas pernas foram-me apresentadas por vocês.
À benzedeira do fim do bairro,
obrigadíssimo. Seguindo seus conselhos meus pais me banquetearam com inúmeros
chás, sopas e emplastos das mais variadas espécies de matos da nossa flora.
Lamento por não ter tido a competência de me curar com seus remédios...
Obrigado aos amigos que secretamente
me eximem das observações mais sinceras do meu ser. Deixando que assim eu me
descubra e me conserte sozinho. Em especial aos que lêem e criticam, pois me
dão motivos para continuar. Entendendo que o escrito aqui é uma forma de
agradecer pelo aturar de tantos anos.
JFCNeto
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