segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Agradecimentos

Obrigado aquela chuva de vento que me lembrou que um bom guarda-chuva pode ser útil. E àquele motorista que arrancou o ônibus ignorando meus gritos e levando meu guarda chuva, minhas lembranças.

À professora do primário que excomungou meu coleguinha por fazer xixi nas calças, muito obrigado. O seu escárnio me fez entender a importância de se manter as cuecas limpas.

Ao meu amigo, que me cobrou um disco de vinil com rispidez, muito obrigado. Além das cuecas me fez aprender que também é bom manter o nome limpo.

À quina do balcão que divide a copa da sala, muitíssimo obrigado. Me fez lembrar dolorosamente da existência silenciosa dos meus dedos mindinhos.

Muito obrigado todas as tampas de canetas esferográficas, sem vocês meus ouvidos coçariam eternamente.

Ao pé de manga do meu quintal, meus agradecimentos. Aderido à sua pele trincada e fungosa conheci o poder do contato com uma taturana bezerra, com os marimbondos chumbinhos e, por conseqüência, o contato direto com Deus no desespero da dor.

Obrigado à lagarta e aos marimbondos, a amônia e a sensação de sua inalação, só conheci tentando me salvar dos seus efeitos.

Ao copo lagoinha, a mais profunda consideração. Pois ainda na infância me proporcionou a consciência de que nem todo líquido incolor é também insípido e inodoro. Além disso, me fez entender a importância de respirar, já que a cachaça me roubou a respiração.

À menina por quem fui apaixonado no colégio minhas desculpas e agradecimentos. Primeiro por esquecer seu nome e depois por me inserir na arte de desejar, desejar, desejar...

Obrigado cada miligrama de tabaco que impregnaram meus alvéolos, pela ajuda em enfrentar as ansiedades da vida.

Ao Sol que nasce na Ilha do Mangabal, muito obrigado. Entendi o meu tamanho diante das coisas depois de passar um dia inteiro sob você. Aproveitando pude entender a importância do protetor solar ao passar uma noite sem dormir com a pele tostada.

Ao indivíduo que cuspiu na minha cabeça de cima do viaduto Santa Tereza, valeu. Não te desejo mal, desejo apenas o que você merece... Mando as mais saudosas lembranças à vossa genitora.

Obrigado lata de 18 litros que carreguei batendo a laje da casa de um amigo. Pude ter a experiência de passar uma semana com concreto agarrado à minha orelha esquerda, coisa que certamente poucos experimentaram.

Morros do bairro da Sagrada Família, minhas lembranças fraternas. As panturrilhas de minhas pernas foram-me apresentadas por vocês.

À benzedeira do fim do bairro, obrigadíssimo. Seguindo seus conselhos meus pais me banquetearam com inúmeros chás, sopas e emplastos das mais variadas espécies de matos da nossa flora. Lamento por não ter tido a competência de me curar com seus remédios...


Obrigado aos amigos que secretamente me eximem das observações mais sinceras do meu ser. Deixando que assim eu me descubra e me conserte sozinho. Em especial aos que lêem e criticam, pois me dão motivos para continuar. Entendendo que o escrito aqui é uma forma de agradecer pelo aturar de tantos anos.



JFCNeto

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